estresseO cortisol é um hormônio produzido pelas glândulas supra-renais. Considerado o hormônio do estresse, prepara o corpo para enfrentar situações de emergência e ajuda na resposta física aos problemas, aumentando a pressão arterial e o açúcar no sangue. Esse mecanismo gera energia muscular.

Legal? Mais ou menos. Simultaneamente cessam todas as funções anabólicas de recuperação, renovação e criação de tecidos.

No mundo real, longe do seu escritório, uma vez que o estresse é pontual e a crise é superada, os níveis hormonais e o processo fisiológico voltam a normalidade.

Na nossa cultura, onde o estresse é artificialmente criado, mantido e, em certas condições, encorajado, os níveis de cortisol no organismo disparam. Não se fala mais em uma situação limite, perigo iminente ou risco de morte. Estamos encarando um verdadeiro e pernicioso novo estilo de vida.

Explico: em caso de emergências que envolvam grandes esforços físicos, como o uso explosivo da força para subir em uma árvore (fugindo de um urso, do pai da namorada ou do cobrador persistente), o cortisol é seu melhor amigo. Para enfrentar aquela apresentação de trabalho acadêmico ou entrevista de emprego, ele está ali, aumentando sua concentração.

Isto é bom? Mais ou menos. Se, por um lado, a concentração nos leva a tomar uma decisão mais rápida (não necessariamente melhor, mais eficaz ou mais adequada), por outro o comportamento da pessoa tende a ser mais agressivo e a permanência neste estado leva ao estresse crônico e, no limite, à destruição de tecido muscular.

Com sintomas como…

  • Perda de massa muscular
  • Aumento do peso (refeições pouco saudáveis, todos aqueles salgadinhos em sacos coloridos);
  • Aumento das chances de osteoporose;
  • Dificuldade na aprendizagem;
  • Baixo crescimento;
  • Diminuição da testosterona;
  • Lapsos de memória;
  • Aumento da sede e da frequência em urinar (lembra de todo aquele pessoal com garrafinhas de água na mesa?);
  • Diminuição da libido (pois é…);
  • Menstruação irregular…

… a ópera é uma tragédia e, sim, o Herói morre no final.

De onde vem este bagulho?

A culpa é minha, sua, de todo mundo que se submete à ditadura da tensão. Entendo que os prazos cavalgam as costas do calendário e que, em última análise ”Tempus Fugit”. Mas calma lá. Viver em constante estado de sítio ou encarar como normal aquela colônia de borboletas que se mudou para seu estômago não é saudável. E, de novo, é culpa de todos nós que nos submetemos à essa pressão artificial.

Por que “artificial”? É oriunda de uma cultura de competição que nos obriga a cobrar o sangue e a alma de nós mesmos, só porque os outros também o fazem. Porque existem milhares de vídeos no YouTube sobre Startups, sessões de pitching, aquela desgraça do “elevator pitch”, e o massacre de boas ideias por pessoas que retroalimentam uma cultura que mata seus membros.

Quando você adota um comportamento de fazer, fazer, errar (e achar que está tudo bem)… fazer, fazer, errar de novo (e ainda achar que está tudo bem)… e continuar agindo da mesma forma, só para poder se chamar de “Palestrante” e, em um auditório de Coworking, na frente de 5 pessoas, dizer que tem orgulho de ter matado e enterrado cinco empresas, véio… ou véia… você vestiu a camisa do time “deles”. Você se deixou seduzir por um canto de sereia ingrato, falso e perigoso. Cuide-se.

Óbvio que certas pessoas não são capazes de escrever uma letra ou realizar uma tarefa (nem uma!) sem ter alguém lhe bafejando colarinho abaixo. Mas isto não deve ser é a regra. Melhor: não podemos permitir que essa seja a regra. Precisamos estar atentos a causas e consequências. Se você estava na cantina da faculdade no dia em que explicaram “Nexo Causal”, entenda agora: é o elo que liga a conduta de um agente com o resultado produzido.

Entender isto é entender encadeamento de fatos e atos. É aprender de onde eu vim, compreender onde estou e planejar para onde quero ir. É ter visão ampla, é apreender o “big picture” ou o que defino para meus coachees de “visão de drone”: lá do alto. Em última análise, somos responsáveis pelo que acontece com a gente mesmo, ou com o que permitimos que aconteça conosco.

“Meu chefe é exatamente assim!”

Ouvi você reclamando e fazendo biquinho. Primeiro: ele deveria ser um líder e não um chefe. E ser chefe é fácil. Feitor de escravos é chefe. Aqueles caras que tocavam o tambor nas galés para os remadores manterem o ritmo eram chefes. Cobrar que seus subordinados trabalhem 70 horas por semana é coisa de chefe (já tive chefe assim). O chefe manda. Briga. Quer ter seguidores, apoiadores, defensores, mas não dá o exemplo e só consegue “minions”. Não sabe cooperar, não sabe coordenar e nem sabe cobrar. Não foi treinado para ser líder. Não conhece seus Talentos Dominantes nem seus Pontos Fortes.

Já o líder é o primeiro que sai da trincheira e leva tiro pela equipe. Conhece seus limites e conhece intimamente as características de cada membro das equipes que gestiona. Não busca asseclas mas quando percebe é o centro das atenções, é um norte, é respeitado e suas atitudes e características são emuladas. Entende cronograma, entende prazo e, mais do que tudo, respeita o tempo das pessoas. Resultado: menos estresse e menos cortisol. E aqui você se revolta e murmura entre dentes: “Mas nunca tive um chefe assim!” ou “Na realidade das grande empresas não é assim”. Ao que eu respondo: até hoje você deu azar ou escolheu mal o lugar onde foi trabalhar e ficou refém do salário que recebia.

E que fique claro: uma coisa é a gente cumprir o que prometeu, assumir o ônus das nossas responsabilidades e atender todos os nossos compromissos. Outra é criarmos tensão artificial e porque foi recomendado por um “palestrante” (aspas sarcásticas), nos enfiarmos embaixo de uma pedra porque o peso é bom para a criatividade.

Ou concordar em viver com aquela sensação de que estamos eternamente no meio de um exercício de incêndio sem saber ao certo se é ou não um exercício… até que sentimos o cheiro da fumaça.

Sugestões?

Como dizia meu pai: largue mão dessa bobagem. O que, em jargão dos italianos de Curitiba pode ser traduzido como: analise a asneira que você está fazendo e pare de destruir sua vida em função de uma moda que já está passando nos países de onde importamos esta cultura.

Não me entenda errado. Sou fã incondicional da cultura americana, amo Blues, toco banjo e harmônica, assisto Netflix todos os dias, fiquei puto quando fizeram o que fizeram com Jon Snow (independente da temporada de GOT) e acho que as montanhas russas dos parques de Orlando são as melhores do mundo.

Mas leia “Tools of Titans” de Tim Ferris. Ele que foi um dos primeiros investidores do Uber, que participou da concepção e criação de dezenas de Startups já disse que essa urgência artificial faz com que a saúde física e mental dos envolvidos nestes processos seja uma raridade. Já ficou claro para as próprias pessoas que criaram estas reuniões de massacre que chamam de sessões de pitching, que criaram a pressa ficcional ou de mentirinha, que este universo é insustentável.

Sei que o Brasil está em frangalhos, destruído por políticos corruptos e por consecutivos planos econômicos estúpidos. Sei também que temos que aproveitar e pular para agarrar todas e qualquer oportunidade para gerarmos recursos para nossos planos. E é por isso que termino este artigo me dirigindo para os líderes, para os formadores de opinião, para os investidores anjo: digam não à cultura o cortisol. Parem de sacudir a cenourinha na frente das pessoas como se aquele pedaço de coisa alaranjada fosse um futuro brilhante. Hoje eles têm em torno de 24 anos. Eles aparentemente aguentam o tranco. E daqui a 20 anos?

Parem de ser chefes. Melhor ainda: parem de ser predadores em um ecossistema que já está doente. Sejam líderes. Dêem o exemplo. Este pessoal todo precisa de vocês e vocês precisam deles. Escravos não criam. Mentes livres, mudam o mundo.

A Cultura do Cortisol

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